Thursday, May 29, 2008

República do Nepal

A monarquia nepalesa, com 250 anos de história, acaba de ser abolida. O rei Gyanendra tem quinze dias, quatorze agora, para sair do seu palácio.

Esse rei soltou uma das melhores frases tragicômicas do século: em fins de 2005, com o país absolutamente instável, ele convocou eleições fajutas para se autolegitimar. A guerrilha maoísta começou a efetuar ataques terroristas, e começou uma repressão brutal e sangrenta. Ao que o rei anunciou:

"As eleições acontecerão...

















...não importa quantas pessoas precisem morrer para que elas ocorram!"

Thursday, May 15, 2008

Sobre Bagdá, ou uma história de sobrevivência

Uma das histórias mais impactantes do Sandman é aquela em que Morpheus se encontra com ninguém mais ninguém menos do que Harun Al-Raschid, na brilhante Bagdá do ano 800 - impactante não apenas pela importância do personagem histórico, mas porque ocorrem diversos cortes para a Bagdá "dos dias atuais", que seria a Bagdá pós-primeira Guerra do Golfo. Mais impactante ainda pelo fato da situação da cidade só ter piorado, graças à "política" bushista.

A Bagdá dourada, a capital do Califado Abássida, o centro do Dar al-Salam, o mundo islâmico, da Casa da Sabedoria, não mais existe - e não é por causa do Bush. Já em 808 a capital do califado abássida foi transferida para Samarra, graças à revolta por Husayn Ibn Isa. Em 836, escravos mamelucos se rebelaram, e a dinastia abássida perdeu o controle da cidade em 945, para a dinastia Buyída, que, por sua vez, foi derrotada pelos turcos seljúcidas em 1055. A cidade voltou pro domínio abássida islâmico, da Casa da Sabedoria, não mais existe - e não é por causa do Bush.

Já em 808 a capital do califado abássida foi transferida para Samarra, graças à revolta por Husayn Ibn Isa. Em 836, escravos mamelucos se rebelaram, e a dinastia abássida perdeu o controle da cidade em 945, para a dinastia Buyída, que, por sua vez, foi derrotada pelos turcos seljúcidas em 1055. A cidade voltou pro domínio abássida em 1135, mas então o califado, que antes se extendia da Líbia ao Baluqistão, do Sudão e do Iêmen até o Azerbaijão nada mais era do que o Iraque e umas poucas partes da Síria.

Bagdá já estava em declínio, mas se mantinha como um dos grandes centros do Islã. Mais eis que surgiu um invasor mais impiedoso que qualquer seljúcida ou mameluco: o mongol. Em 10 de fevereiro de 1258 (vejam só, fazem exatos 750 anos), uma das datas mais tristes da história universal, a cidade começou a ser violentamente saqueada pelos mongóis, liderados por Hulagu Khan (um neto do Gêngis). Foi um banho de sangue: a estimativa mais conservadora é que 90,000 civis foram massacrados - isso sem contar, evidentemente, os estupros e saques que foram realizados. O sistema de canais da cidade foi danificado de forma praticamente irreversível.

O que restou da cidade permaneceu sob controle do canato ilcã - os governantes mongóis do Irã. Em 1401, um conquistador tão impiedoso quanto Gêngis Khan se apoderou da cidade: Timur, o Coxo - novo saque da cidade. Com o colapso do império timúrida, Bagdá mudou de mãos várias vezes durante o século XV, se tornando um ponto de conflito entre as tribos turcomanas da Ovelha Branca e da Ovelha Negra (Aq Quyunlu e Qara Quyunlu, respectivamente; nota-se que os turcomanos não se destacavam por sua criatividade).

O status quo de Bagdá pelos próximos quatro séculos seria estabelecido pelo conflito entre o Império Persa Safávida e o Império Turco-Otomano. Sintomaticamente, Bagdá, nesse período, era mais uma cidade-fortaleza, um quartel-general, do que qualquer outra coisa; ela não poderia se equiparar nem a Tabriz ou a Isfahan (persas), nem a Constantinopla ou ao Cairo (otomanos). O Império Persa governaria a cidade de 1508 a 1534, e o Turco-Otomano de 1534 até sua desintegração depois da Primeira Guerra Mundial.

Bagdá se tornou centro, então, do mandato britânico da Mesopotâmia. Em 1932, o Iraque se tornou independente, sob a monarquia hashemita. Em 1958, um golpe de Estado remove a monarquia, e é instaurada uma frágil democracia marcada por golpes - o mais bem-sucedido, obviamente, sendo o de Saddam Hussein em 1979.

Bagdá, então, tem que enfrentar novas provações: o brutal conflito Irã-Iraque - no qual, esporadicamente, a cidade sofria com ataques de mísseis SCUD pelas forças iranianas (evidentemente, Teerã também se tornou alvo de bombardeios pelas forças iraquianas)-, a Guerra do Golfo, o bloqueio da década de 90 e, por fim, a Guerra do Iraque de 2003.

Sem querer ser pessimista ou cínico, a história de Bagdá é um mar de lágrimas, um verdadeiro banho de sangue, um espetáculo da miséria desde os dias de Harun Al-Raschid e das Mil e Uma Noites.

E no entanto, no entanto, Bagdá persiste. De lá, se vêem as ruínas de Selêucia (capital do Império Selêucida), Ctesifonte (capital do Império Persa Sassânida) e, claro, de Babilônia (dispensa apresentações).

Se Harun Al-Raschid pudesse ver o estado de sua outrora maravilhosa cidade hoje, provavelmente choraria. Mas talvez, talvez, ele esboçaria um pequeno sorriso com o fato de que nada sobrou da Selêucia de Seleuco Nicator e de Antíoco III, nem da Ctesifonte de Sapor I e de Kusro Anarshiwan, nem da Babilônia de Hamurábi e de Nabucodonosor.

Mas Bagdá, a Bagdá de Harun Al-Raschid, persiste.

Wednesday, May 14, 2008

Uma crítica burguesa - ou uma crítica óbvia

Eis que, fuçando pelo orkut, encontro uma foto dos ocupantes da UNB segurando orgulhosamente um cartaz, onde se lê: "Sejamos realistas, peçamos o impossível".
















PORRA!









POOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORRRRA!












POOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORRRRRRRRRRRRRRRRRA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!





QUARENTA ANOS SE PASSARAM E VOCÊS AINDA NÃO PENSARAM EM NENHUM OUTRO SLOGAN?